O Que a Bíblia Realmente Ensina Sobre Adultério, Prostituição e Vícios”
A ideia de que existem “espíritos” responsáveis por pecados específicos, como adultério, prostituição, embriaguez e vícios, é difundida em muitos círculos cristãos, principalmente entre aqueles que enfatizam práticas de batalha espiritual. Frequentemente, são feitas orações e rituais para “expulsar” supostos demônios que estariam por trás desses comportamentos. Mas será que essa compreensão encontra respaldo nas Escrituras? Como a Bíblia realmente trata a origem desses pecados?
O Novo Testamento é claro ao tratar de comportamentos como adultério, prostituição, embriaguez e vícios: tais práticas são apresentadas como obras da carne, frutos da natureza humana caída, e não como resultado direto da possessão ou influência de demônios específicos.
“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, inimizades, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, embriaguez, orgias e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus.”
(Gálatas 5.19-21, NAA)
Aqui, Paulo deixa claro que essas práticas são manifestações do próprio coração humano corrompido. Não há menção à necessidade de se identificar ou expulsar demônios específicos relacionados a tais pecados.
“Cada um, porém, é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.”
(Tiago 1.14-15, NAA)
Tiago enfatiza que a fonte da tentação e do pecado está dentro do próprio indivíduo — em seus desejos —, não em entidades espirituais externas que precisem ser expulsas.
É fato que, em alguns textos bíblicos, aparecem expressões como “espírito de prostituição” (Oséias 4.12), “espírito de ciúmes” (Números 5.14) e “espírito de sono profundo” (Isaías 29.10). Nesses casos, a palavra “espírito” é utilizada para expressar uma disposição interior dominante, inclinação moral ou estado que toma conta da pessoa ou do povo.
Veja o exemplo clássico:
“Meu povo consulta o seu pedaço de madeira, e a sua vara lhe dá resposta, porque um espírito de prostituição os desvia e eles se prostituem, afastando-se do seu Deus.”
(Oséias 4.12, NAA)
Neste texto, “espírito de prostituição” descreve a condição interior de rebeldia e infidelidade do povo de Israel, que se deixou dominar por desejos e práticas contrários à vontade de Deus. A ideia é que essas pessoas se entregaram de tal modo ao pecado que suas vontades, decisões e afetos estão sob o domínio de uma inclinação pecaminosa poderosa.
Este entendimento é consistente em toda a revelação bíblica: o termo “espírito” pode se referir ao que governa a mente, aos impulsos ou à condição que direciona os pensamentos e ações, e não necessariamente a um ser espiritual distinto, como um demônio autônomo responsável por aquele pecado.
O próprio contexto de Oséias mostra que a ênfase é a responsabilidade e o desvio voluntário do povo (cf. Oséias 5.4: “Não se dispõem a converter-se ao seu Deus, pois o espírito de prostituição está no meio deles, e não conhecem o Senhor”).
A Bíblia condena a embriaguez e os vícios com clareza, mas sempre coloca sobre o indivíduo a responsabilidade por suas escolhas e ações:
“O vinho é escarnecedor e a bebida forte é alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio.”
(Provérbios 20.1, NAA)
“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito.”
(Efésios 5.18, NAA)
Em momento algum o texto bíblico indica que a solução para a embriaguez ou os vícios é a expulsão de um espírito demoníaco específico. Ao contrário, o ensino é de busca por sabedoria, domínio próprio e dependência do Espírito Santo.
As Escrituras apontam que o combate ao pecado exige arrependimento, confissão, renovação do entendimento e dependência da graça de Deus. Não há modelo apostólico ou orientação doutrinária para buscar a expulsão de demônios responsáveis por cada pecado:
“Portanto, irmãos, não somos devedores à carne, como se estivéssemos obrigados a viver segundo a carne; pois, se vocês viverem segundo a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer as obras do corpo, vocês viverão.”
(Romanos 8.12-13, NAA)
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
(Romanos 12.2, NAA)
A vitória sobre o pecado é resultado da obra do Espírito Santo na vida do crente e da resposta pessoal de fé, arrependimento e santificação.
Adultério, prostituição, embriaguez e vícios são tratados nas Escrituras como resultado da inclinação e disposição do coração humano, que pode ser tão forte a ponto de escravizar a pessoa, mas não são apresentados como manifestações diretas de demônios distintos para cada pecado.
O uso bíblico de “espírito de…” nesses casos indica uma influência ou estado dominante, uma inclinação que governa a vontade, e não uma entidade pessoal separada.
A responsabilidade pelo pecado é individual, e a solução é buscar a Deus, confessar os pecados e depender do poder transformador do Espírito Santo, e não simplesmente realizar rituais de expulsão de supostos espíritos específicos.
Assim, preservar esse entendimento protege a objetividade da interpretação bíblica e mantém a centralidade do evangelho: somos chamados ao arrependimento, à fé e à renovação de vida pelo Espírito de Deus.
Referências:
- Bereianos: Existem espíritos de adultério?
- Bíblia NAA
- D. A. Carson, “Cristianismo Puro e Simples”
- John Stott, “A Cruz de Cristo”
- John MacArthur, “Guerra Espiritual”
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