Em Apocalipse 3:15-16, lemos as palavras de Jesus à igreja de Laodiceia: “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio, nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. Esse é um dos textos bíblicos que frequentemente gera confusão, pois muitos entendem que Jesus está dizendo que ser “quente” significa ser fervoroso na fé, enquanto ser “frio” significa estar espiritualmente morto ou contrário a Deus. No entanto, essa não é a verdadeira mensagem dessa passagem.
Jesus não está sugerindo que ser contra Ele seja uma opção aceitável. O entendimento comum de que “frio” seria algo negativo e “quente” algo positivo está equivocado. Para entender o que Jesus realmente quer dizer, precisamos considerar o contexto geográfico e cultural de Laodiceia, uma cidade rica, mas que sofria com a falta de uma fonte de água própria.
Laodiceia ficava entre duas cidades importantes: Colossos e Hierápolis. Colossos era conhecida por suas fontes de água fria, excelentes para beber e refrescar, enquanto Hierápolis era famosa por suas águas termais, ricas em minerais, que eram usadas com fins medicinais. O problema de Laodiceia era que, ao canalizar a água dessas duas cidades vizinhas, ela chegava morna, sem servir adequadamente para beber ou para curar.
É nesse contexto que Jesus diz que a igreja de Laodiceia é “morna”. A água fria de Colossos era boa para refrescar, e a água quente de Hierápolis era boa para curar, mas a água morna que chegava a Laodiceia não servia nem para uma coisa, nem para outra. Da mesma forma, Jesus critica a igreja laodicense por sua inutilidade espiritual. Eles não eram um alívio refrescante em meio ao calor da vida, nem uma cura para os feridos. Eles haviam se tornado mornos, espiritualmente sem propósito.
Laodiceia era uma cidade extremamente rica. Quando foi destruída por um terremoto em 60 d.C., os laodicenses recusaram a ajuda do Império Romano para reconstruir a cidade, orgulhosos de sua capacidade de se reerguerem sozinhos. A igreja, assim como a cidade, havia adotado essa atitude de autossuficiência, dizendo: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada” (Apocalipse 3:17). No entanto, Jesus responde a isso dizendo: “Você não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu”.
A questão central aqui é a distância da fonte.
O problema deles não era a falta de paixão, mas a sua autossuficiência, a falsa sensação de que não precisavam de nada além de si. Isso os levou a um estado de complacência e inutilidade.
Essa atitude de autossuficiência é mortal para a vida cristã. Quando acreditamos que podemos lidar com tudo sozinhos, sem depender de Deus, nos afastamos d’Ele e nos tornamos espiritualmente mornos. A verdadeira riqueza espiritual não vem de recursos materiais, mas da nossa dependência de Cristo. Jesus oferece o remédio para essa condição: “Aconselho-te que de mim compre ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; roupas brancas para vestires, para cobrir a sua vergonhosa nudez; e colírio para ungires os teus olhos e poder enxergar” (Apocalipse 3:18).
O “ouro refinado” que Jesus menciona simboliza a verdadeira riqueza espiritual, que só Ele pode nos dar. As “vestes brancas” representam a pureza e a justificação que recebemos por meio de Cristo, cobrindo nossa vergonha espiritual. E o “colírio” é a cura para a cegueira espiritual que impede os laodicenses de verem sua real condição.
A mensagem de Jesus à igreja de Laodiceia é um alerta para todos nós.
Quando nos tornamos autossuficientes e deixamos de depender de Deus, nos tornamos mornos, incapazes de cumprir nosso propósito como cristãos.
Jesus nos chama a voltar para a fonte, a depender d’Ele para sermos espiritualmente úteis — seja como uma água refrescante que traz alívio, ou como uma água quente que traz cura.
Que nunca caiamos na armadilha de pensar que não precisamos de Deus. Somente em Cristo encontramos a verdadeira riqueza, a cura para nossa cegueira espiritual e a cobertura para nossa vergonha. A verdadeira vida cristã depende da nossa proximidade com a Fonte — Jesus Cristo.